The Traitors - Capítulo nove

Capítulo nove – A verdade vem à tona. 

"[...]  você sabe muito bem em que buraco o meu pai anda se enfiando." 

Samantha P.O.V's 

Minha cabeça estava tão confusa que eu não sabia nem o que pensar ou como agir. Ou Niall estava pirando ou Beck e Zayn saberiam muito mais do que estavam me contando. Talvez o "na hora certa você saberá" que eles tanto me falavam havia chegado. Eu queria logo perguntar a Beck o que ela sabia e o que estava me escondendo, mas no fim da aula, eu falei da festa de sábado e a convidei pra jantar mais tarde e ela havia topado, mas ainda assim parecia estar um pouco chateada de como a tratei mais cedo. Em circunstâncias normais eu não a julgaria, mas agora que descobri que ela é uma falsa em potencial, eu a julgaria sim. 

Em casa, eu olhava meu pai atentamente, ele não parava de mexer no celular e de digitar coisas nele. Talvez ele sempre fora assim e eu que não reparava, mas agora estava me irritando profundamente vê-lo assim e perceber que estava mandando mensagens pra outra mulher.  

– Filha será que pode mexer isso pra mim? Vou ter que ir até a dispensa pegar algo pra engrossar o molho. – Ele disse largando o celular desbloqueado ao lado do cooktop e saindo.  

Fui rapidamente mexer aquele molho ralo e de olho no celular que infelizmente apagou assim que pensei em colocar minhas mãos dele, o tempo de inatividade era muito curto. Não demorou muito até que ele voltasse e tomasse conta novamente do fogão, ele era muito bom na cozinha. Na verdade, tinha começado a ser quando mamãe abriu o escritório e teve que começar a chegar mais tarde em casa. Enquanto meu pai mexia despreocupado a panela e aquele molho ia engrossando eu estava atenta atrás dele tentando ver o que ele estava fazendo no celular, mas estava difícil demais. 

– Pode pegar umas batatas pra mim aí na geladeira? 

– Claro! – disse saindo de meus devaneios. 

Peguei as batatas e coloquei no balcão me encostando novamente e voltando minha atenção naquele maldito celular. O meu apitou e era uma mensagem de Beck falando que já estava no restaurante então eu me despedi do meu pai que pareceu chateado quando disse que eu não iria jantar em casa. Dirigi até o restaurante, que por sinal era o nosso preferido da cidade, eu e Beck éramos amigas a tanto tempo que tínhamos nossa coleção de lugares preferidos por ordem do que era melhor e esse estava no topo da lista. Cheguei ao restaurante e assim que entrei a vi sentada enquanto mexia no celular. Suspirei fundo e fui até ela, me sentando de frente. 

– Atrasou hein. – ela reclamou. 

– Desculpa, estava ajudando meu pai com o jantar. 

– Já jantou? – ela pareceu incrédula.  

– É claro que não, só ajudei. Já pediu pra gente? 

– Já, pedi o de sempre. – ela respirou fundo e depois forçou um sorriso. 

– O que foi? 

– Zayn está me cobrando uma resposta. Mas agora que ele é meu de novo eu não sei se quero. 

– Por quê? 

– Não sei, eu acho que estava melhor quando ele estava com a Page sabe... eu terminei com ele por um motivo sério e não deveria ter voltado atrás.  

– Você descobriu uma traição? – especulei. 

– Claro que não! Eu nem estaria falando com ele de isso tivesse acontecido, mas pra mim o que ele fez com a Page beirou traição.  

– Ele te contou sobre alguma traição? – ela me encarou séria, tinha ficado até verde. 

– Do que você está falando, Samantha? 

– Traição. Está familiarizada com isso? 

– Claro que não! 

– Não vou ficar fazendo joguinhos, Rebeca. Me conta logo o que você sabe sobre meu pai e a mãe do Niall. O motivo de o encontro ter sido horrível foi que ele me contou que o meu pai tem um caso com a mãe dele! É claro que eu não acreditei, afinal o meu pai ama mais que tudo a minha mãe... pelo menos era o que eu achava até Niall me mandar perguntar pra você e pra Zayn. O que vocês sabem? – enquanto eu falava ela parecia ainda mais assustada.  

– Olha, Sam... – ela pensava pra falar. 

– Não enrola, Rebeca. Eu quero saber e quero saber agora! 

– Alguns dias antes de eu terminar com o Zayn, ele me levou até um restaurante, um dos mais caros daqui, tínhamos ido comemorar o primeiro salário dele trabalhando no estúdio de tattoo. Eu não vi nada, mas quando estávamos deitados, Zayn me disse que viu seu pai alisando uma mulher em um canto reservado do restaurante. Eu não acreditei nele e resolvi terminar o namoro, foi por isso que não te contei. Sei o quanto família é importante pra você. - cada palavra dela era como se fosse um tapa na minha cara. Eu confiava nela, confiava cada segredo meu e ela me traiu. Assim como meu pai. 

– Eu te considerava da família. – Eu disse já sentindo as lágrimas caírem.  

– Sam, por favor, acredite em mim, eu só fiz isso porque duvidei que fosse verdade, achei que Zayn estava vendo coisas... 

– E porque terminou com ele? Pra não levar a completa culpa? Quanto tempo ensaiou essa frase pra me dizer? Frases feitas não vão fazer meu pai ser fiel e nem fazer você voltar a ser minha amiga... sempre te considerei minha irmã, mas você me esconder isso não tem perdão! 

– Sam... 

– Cala a boca! Sua vagabunda mentirosa. 

Antes de me levantar olhei fundo nos olhos dela, estavam tristes. Dirigi sem rumo por minutos e logo parei em uma estrada vazia, as únicas companhias eram as árvores. Estacionei o carro e comecei a fazer a trilha que era muito mal iluminada e logo achei meu cantinho. Um banco perto de um pequeno penhasco que dava vista de quase toda cidade, inclusive da roda gigante em que Niall tinha me levado. Me xingava mentalmente por ter sido tão ingênua com tudo isso, família é uma merda e eu já deveria ter aprendido isso. Eu chorava e chorava ainda mais ao lembrar de todos os perrengues que minha mãe passou ao lado do meu pai para que no fim ele fizesse tudo isso com ela. Uma mulher guerreira, decidida, linda, que sabe o que quer em todas áreas de sua vida, ser traída assim. As pessoas só dão valor quando perdem, isso é fato. Em meio aos soluços pós choro, escutei passos vindos do meio das árvores, me levantei do banco assustada e me virei pra olhar. Depois do que tinha acontecido com aqueles caras eu nem deveria estar aqui sozinha. Me arrepiei, mas não de frio e sim de medo do que poderia acontecer, claro que poderia ser só um animal andando por ali, mas também era muito fácil de ser um maníaco. O barulho ficava cada vez mais próximo e eu parecia uma estátua no chão. Não conseguia andar e nem me mover, só estava olhando para as árvores esperando o que estava por vir.  

– Até que enfim! – disse uma voz e uma pessoa finalmente saiu do meio das árvores.  

– Porra Niall, que susto você me deu! – eu disse aliviada ao ver que era ele. 

– Recebi sua mensagem, mas pensei que era um lugar melhorzinho. – ele disse olhando em volta. 

– Fala isso porque veio pelo meio das árvores e não pela trilha. - apontei a trilha e ele fez cara de idiota – Pensei que fosse um animal. 

– Esse animal aqui é raro, meu bem. - ele me fez soltar um tipo de risada nasal e foi muito engraçado – O que aconteceu? – eu me sentei enquanto ele falava e ele se sentou ao meu lado. 

– Você estava certo. Beck e Zayn sabiam tudo e não me contaram nada... desculpa por ter duvidado de você. – eu disse envergonhada.  

– Está desculpada, moça de família. – revirei os olhos com o deboche dele. 

– Eu tô falando sério, chato. 

– Ai eu sei, chata é você! – ele disse cutucando minha costela com o dedo e me fazendo rir. 

– Nem parece que há alguns minutos eu estava chorando igual uma idiota. 

– Agora temos que conversar sério. O que vamos fazer? 

– Como assim o que vamos fazer? – eu perguntei confusa – Por mim eu iria pra casa e contaria tudo pra minha mãe agora mesmo. 

– Você acha mesmo que traidores devem ter a cara livrada assim, desse jeito? Ainda mais o seu pai que é um homem influente. Eu acho que tanto minha mãe como o seu pai devem sofrer e passar vergonha em público. 

– Você quer contar em público? 

– Claro! – ele disse como se fosse óbvio – Acho que em alguma festa, até em algum evento da empresa dele.  

– Pensando bem isso parece bem tosco pra mim. 

– Tosca é você que vive duvidando do que eu digo, só confie em mim, estou arquitetando tudo isso faz semanas, a parte mais difícil foi contar pra você. 

– Mas são nossos pais, Niall. 

– E sei que você não os perdoará, principalmente o seu pai. Traição não tem perdão, Sam. Eu sei que isso tudo parece muito idiota, mas eles têm que ser punidos por terem nos tirado aquilo que mais importava e era verdadeiro pra gente que era nossas famílias. 

Eu parei para analisar sobre o que estávamos falando. Realmente fazer isso com nossos pais era uma ideia pra lá de idiota, mas em vista que nós dois éramos dois adolescentes chateados estava tudo certo em fazer eles sofrerem a consequência da traição. Tudo o que vai volta, e o deles já estava pra voltar. Nós ficamos em silêncio por um longo tempo, agora a minha maior dúvida era do que nós dois éramos. Até onde eu sei eu só queria beijar a boca dele e olha só onde eu vim parar. Era triste, muito triste. Eu já tinha me dado mal com garotos antes, mas Niall com certeza ganharia o prêmio de boy aleatório que passou pela minha vida. 

– Vai ter uma festa no sábado, é uma festa da empresa do meu pai... sua mãe vai? 

– Ela deve ter comentado sobre, mas não prestei muita atenção... por quê? 

– Poderíamos começar a ver o que rola entre eles lá, como eles agem, o que fazem quando estão perto um do outro. 

– Boa ideia, eu nem ia nessa festa, mas agora fiquei interessado. 

– Deixa de ser antissocial, garoto! A partir de hoje você vai aparecer em todas as festas, sua mãe estando nela ou não. Você acha que eles são os únicos na vida um do outro? Digo, se eles só têm um ao outro como amantes? 

– Ainda não descobri nada sobre isso... – ele disse pensativo – Mas já cogitei essa alternativa. 

– Seria ainda pior, como vamos fazer? 

– Não sei quando vai ser que vamos revelar, mas temos que ter muitas provas sobre o que vamos fazer e mostrar para as pessoas, não quero passar toda essa vergonha e ser tudo coisa da nossa cabeça. 

– Não é! Temos pessoas que viram, eles não podem fugir da verdade! 

– Pra quem estava duvidando, você me parece bem interessada agora. 

– Ai, Niall! Pelo amor de Deus, para de piadinha! 

– Não é piada, meu amor, é a verdade! Ontem só faltou me bater por conta dessa história, agora parece um detetive particular, toda ouriçada pra descobrir em que buraco nossos pais andam se enfiando. 

– Primeiro; você fala como um velho. Segundo; você sabe muito bem em que buraco o meu pai anda se enfiando. 

– Aí pelo amor de Jesus Cristo, Samantha, isso é coisa de se falar? – ele disse tapando o rosto com as mãos, e quando me olhou ele estava vermelho, querendo rir. 

– Não mete Jesus no meio disso. 

– Afinal quem está metendo algo é o seu pai, não? 

– Como consegue falar uma coisa dessas de uma situação dessas? Está comprovado, você é mesmo um grande animal. 

– Se era pra eu me sentir magoado, saiba que falhou. 

– Pode não ser um animal, mas na maioria das vezes age como um. – ele revirou os olhos – Preciso saber de que informações você já sabe sobre tudo isso. – mudei de assunto. 

– A única coisa que eu sei é que seu pai estava alisando a minha mãe em um restaurante e que manda mensagens dizendo que quer ver ela fora do horário de trabalho. 

– Isso não é o suficiente. 

– Claro que não é! É por isso que precisamos unir tudo o que conseguirmos pra provar a todos que acham que eles são pessoas boas, que eles não são nada bons pra quem os ama. Vamos unir vídeos, fotos, mensagens e tudo o que for preciso. 

– Agora eu senti firmeza, senhor Horan. 

– Pode ter certeza que eu estou muito determinado e eu vou até o fim pra desmascarar a mulher que está destruindo minha família. 

Ficamos conversando pelo que me pareceu horas, eu estava cada vez mais animada com tudo que Niall falava. Finalmente eu sentia que iria ter alguma coisa pra animar a minha vida, já estava até acostumada com a ideia de que meu pai era um grande filho da puta e isso era um grande avanço. Quando decidimos ir cada um pro seu canto, era realmente tarde e cheguei em casa tentando fazer o mínimo de barulho possível. Entrei pela porta da cozinha e tudo estava aceso, sinal que meus pais estavam em casa e estavam acordados. Fechei a porta com cuidado e os ouvi conversando no que parecia ser o segundo andar da casa. Ouvi algo vibrar, mas quando peguei meu celular, não era ele. Meus olhos vasculharam a cozinha e travaram no balcão. Era o celular do meu pai. 

Me aproximei devagar, tentando fazer o mínimo de barulho, minhas mãos tremiam e suavam. Cheguei até o celular e no visor havia o nome "Amy Trabalho". Pra que entrar em contato com o amante uma hora dessas? A ligação encerrou e eu suspirei fundo, mas logo começou a vibrar de novo, eu pensei em atender, mas quando minhas mãos foram em direção ao celular, meu pai chegou à cozinha. 

– Filha! – ele disse surpreso vindo até mim e vendo o celular vibrar, desligou. – Chegou tarde, onde estava? 

– Estava jantando com a Beck... não vai atender? 

– Não é nada importante. – ele disse guardando o celular no bolso – Sua mãe está pirando, estamos resolvendo algumas coisas da festa de sábado mas ela reclama de tudo, sabe como é? 

– Mulheres são complicadas, né? 

– E como... sua mãe lembrou que vamos fazer aniversário de casamento e quer fazer uma festa... duas décadas juntos, incrível, não é? 

– E como! – disse animada – Eu posso organizar se vocês quiserem. 

– Claro que não, Sam. Isso iria dar um imenso trabalho pra você e atrapalhar na escola. 

– Sei muito bem administrar o meu tempo e é a festa dos meus pais! Eu adoraria planejar tudo e fazer com que seja especial... deixa, por favor... – eu disse segurando de leve o braço dele e chacoalhando. 

– Tá bom, tá bom! Vou falar com a sua mãe, mas acho bom ver isso logo, ela quer comemorar no mês que vem! 

– Eu dou o meu jeito, podem ficar tranquilos! 

Ele sorriu pra mim com gratidão e eu estava tão animada que queria gritar. Fiz uma dancinha e subi pro meu quarto, digitando logo uma mensagem pra Niall. 

"Já tenho o lugar que tudo pode ser revelado, mas temos que ser rápidos em coletar provas... conversamos melhor amanhã. Boa noite, parceiro. - Sam" 

Rebeca P.O.V's 

A cama parecia sempre fria, não importa quantos cobertores haviam em cima de mim. Eu não havia comido nada no restaurante, saí sem pagar e quase bati meu carro por ultrapassar um sinal vermelho. Tudo o que estava acontecendo era muito ruim. Sam era tudo pra mim... minha amiga, irmã, confidente entre muitas outras coisas. Eu chorava muito com a situação, como estava odiando Zayn por ter me contado aquilo, como me odiava por ter guardado esse segredo, eu era ridícula. Já fui a amante e foi tão bom, acho que isso me impediu de contar a Sam tudo o que estava acontecendo e eu não me orgulhava, sentia nojo de mim própria. Três batidas na porta do quarto foram o suficiente pra me fazer engolir o choro e dizer "Entra" com a voz mais forçada do mundo. A porta se abriu e quando vi quem era me sentei rapidamente na cama. 

– O que você tá fazendo aqui? – minha voz saiu completamente embargada e cheia de raiva com um misto de tristeza. 

– Eu estava passando por perto e resolvi parar aqui, sua mãe me deixou entrar e eu trouxe a lasanha do restaurante que você gosta... pensei que estava com fome. – Zayn disse entrando no quarto e fechando a porta, ele acendeu a luz e eu arranquei a lasanha das mãos dele e coloquei em cima da cama, claro que eu não iria recusar. 

– Não deveria estar aqui. 

– O que houve, Rebeca? Estou aqui por você, fiz tudo o que você pediu e agora você está me ignorando, eu não aguento mais tanta coisa acontecendo e você não me conta o que aconteceu pra me tratar assim. 

–  Eu não quero falar com você agora, Zayn! Por favor, sai daqui e me deixa sozinha. 

– Eu não posso fazer isso e nem vou, você está... – ele me olhava – Triste. 

– Estou e quero ficar sozinha. 

– É por causa da Page? Por causa da briga de ontem? 

– Você não tinha direito nenhum de me colocar em uma situação dessas, você não tinha direito nenhum de me tirar o que eu tinha de mais valioso. Você acabou com a minha vida e eu te odeio! Te odeio! Sai daqui, eu não quero te ver agora, eu não quero te ver depois e nem receber mensagens suas. Eu... – agora eu sussurrava – te odeio, Zayn. 

– Espero que melhore logo, come a lasanha, estava planejando comer com você, mas pelo jeito não vai acontecer... – ele dizia extremamente triste, me deu um beijo na testa e saiu. Antes de fechar a porta ele me encarou – Eu amo você. 

Ele saiu e fechou a porta. Eu recomecei a chorar sem saber o que fazer. Tinha perdido Sam e perder Zayn também seria doloroso, mas tudo o que estava acontecendo era culpa dele, eu não queria saber do caso de ninguém e agora vou ter que carregar a culpa de ter guardado um segredo pra sempre. 

Continua...